Poemas

SINISTRA CRIATURA
Nasce frágil e pouco sabe, 
O homem é pura vaidade. 
Diante da natureza 
De exuberante beleza 
Ele a destrói todo dia 
Em vera e rude agonia. 

Do que o homem se ufana, 
Vend'o planet'arrasado? 
Grita, esperneia e sofre, 
Pensa ajudar, mas se esgana 
E nisso se vê fadado 
A morrer do lado errado. 

Diante desse ambiente, 
Poderoso e tão fulgente, 
A ele se opõe, s'engana, 
E dele saqueia a essência 
Sem nenhuma complacência 
Em ato de vil demência. 

Se nem sabe de onde veio 
Muito menos pr'onde vai 
Com discurso de falseio 
Mente, fere, mata e trai 
Para se ver calcinado 
Em pó, no chão, desonrado.


A TEIMOSIA DE UM HOMEM BOM
(Dedicado a Rogério da Silva Sprícigo – 1940 - 2011)

Saiu um homem a plantar 
E já o pegara a noitinha 
Com muitas mudas nas mãos. 
Não fez caso e prosseguiu, 
‘Inda que a esposa inquieta 
Mostrara-se não entender 
Por que na velhice um homem 
Plantaria o que não colher.

Virou-se o idoso a sorrir, 
Que assim fora a vida dele. 
Plantara a não mais poder 
Sem com a colheita contar. 
Que a muda estourasse em fruto 
Muitos iriam comer. 
Eis que em vida se fartou 
Daquilo que não plantou.

Senti imenso desejo 
D’esses versos declamar 
Em favor daquele amigo, 
Morto ali, já a sepultar. 
Mas, então intensa dor 
Turvou o meu coração 
Fechou minha boca em luto 
P’ra dali nada brotar.

Foi então que me lembrei 
De me aquietar na presença 
Do amigo que partia 
Sem mesmo nem se opor. 
De semblante tão sereno 
Queria fazer, parece, 
A heróica e mansa volta 
Ao seio do Bom Pastor.

Eu dali melhor saí, 
‘Inda parece que ouvi: 
“Zebrão, um mau coração, 
 Feito pedra, vale pouco. 
Afastado da grandeza 
Revoga-se em agonia, 
O meu sangrou, com certeza, 
Mas valeu a teimosia.”


REDENÇÃO

Sem pudor me fiz desnudo 
Roupas, orgulho e tudo, 
Que pudesse me fazer 
Mais alto e melhor que os outros 
Onde me pudessem ver 
Na noite deixando rastros 
Qual cometa navegante 
Transitório e cintilante.

Despojado, quando então, 
Diante do Criador, 
Me vi prostrado a rezar 
Perguntando-Lhe a razão 
Por que motivos pagar 
Com sangue uma redenção 
De algo que alhures fiz 
Que não consigo lembrar?

Respondeu-me Ele então 
Co'a rapidez da razão 
"Quem co'o ferro, fere e mata 
Mesmo sendo em longa data 
Lhe alcança a vara da lei 
Seja servo, seja rei 
Há de tudo então pagar 
Se comigo quer morar".

Se eu pudesse me livrar 
Das coisas que um dia fiz.. 
O que se faz de solerte 
Às pessoas fica lá 
Esperando por nós mesmos 
Nas curvas da escuridão. 
Com solene veste escura, 
E grave punhal na mão.



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