Discurso de posse

DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA DE LETRAS DE PALHOÇA, EM 17/12/2009

ACADÊMICO: ANTÔNIO MANOEL DA SILVA

Faço minhas, nesse instante, as palavras ditas pelo ilustre escritor libanês, Kahlil Gibran:

“Um livro é como uma janela: quem não o lê, fica distante dela e só pode ver uma pequena parte da paisagem.”

Há exatamente dez anos, eu lançava o meu primeiro livro, intitulado Rochão e a Fada da Rocha, uma obra literária destinada prioritariamente ao público infantil. Naquela ocasião, cercado de parentes e amigos, eu acabara de realizar um dos meus maiores sonhos - dentre muitos já realizados, e tantos outros ainda por realizar - que era escrever, editar e lançar um livro.

Na verdade, essa primeira publicação veio traduzida num pequeno livreto de 47 páginas, cuidadosamente escritas e graficamente estampadas com figuras assemelhadas aos personagens nele tratados, com o propósito pedagógico de melhor atingir o seu público alvo, no sentido de instruí-lo e inseri-lo no mundo da leitura.

Pelas vendagens obtidas, não há como negar a indescritível satisfação que me causou, em saber que logo no primeiro trabalho escrito, viria o reconhecimento público, coroado pelo êxito consignado no número de exemplares vendidos, nos elogios dos leitores, enfim, na qualidade literária que se apresentava, moldada pelos conhecimentos adquiridos ao longo de minha vida escolar, e certamente, sob a influência deste Divino dom, atribuído a mim pela benevolência e magnitude sábia do Criador.

Em cada um de nós este Ser Onipotente designa um dom maior, que se sobressai dentre outras aptidões que adquirimos durante toda a vida. É preciso, portanto, que façamos uma profunda introspecção, para que possamos descobrir que dotes a nós foram reservados pelo Todo-Poderoso, e, mormente, que saibamos exercê-lo com sabedoria em favor da humanidade.

Sonhar é preciso. O homem que não mais sonha, perde a vontade de viver e nada mais almeja conquistar. Vê-se no fim da linha, vive na inércia, pois acredita que já atingiu o ápice de suas realizações. Sente-se realizado. Pois digo que jamais irei partilhar deste pensamento. Em tempo algum alimentarei a idéia de que tudo já realizei, que mais nada há por realizar, pois carrego comigo a certeza de que sempre serei um homem realizando e nunca um homem realizado.

E foi com esse espírito desafiante e sonhador, que tomei a decisão de inscrever-me como candidato a uma vaga na Douta Academia de Letras de Palhoça, a fim de tomar parte na nobre casta literária deste município, com o intuito maior de poder contribuir satisfatoriamente para o desenvolvimento literário e intelectual do povo palhocense.

Sei que o tamanho desse desafio será proporcional ao peso da responsabilidade que certamente dele advirá, exigindo de mim, além da exclusiva dedicação e empenho, total abnegação em favor de muitos. Neste particular, aduzo o pensamento de Cecília Meireles, para a qual “o escritor é a pessoa que diz o que muitos sentem e não sabem expressá-lo. Nossa responsabilidade é de dizer essas coisas com clareza. E há, também, essas coisas que nem todas as pessoas sentem, mas que o escritor ensina a sentir.”

Cada um dos acadêmicos que hoje estão sendo empossados irá unir-se aos demais confrades que compõem o universo literário deste Sodalício, formando, assim, um ente uno representativo de uma classe social que, metaforicamente, começa a dar os seus primeiros passos, aqui na cidade de Palhoça.

Todavia, é logicamente previsível e humanamente aceitável, que dentre nós deva haver uma diversidade de talentos, aptidões e estilos literários, que precisam ser acolhidos e respeitados, proporcionando, a cada um, a liberdade de expressar o seu pensamento através da linguagem escrita, arte para a qual fomos dotados. Com base nessa assertiva, podemos esperar que uns trilhem o caminho da poesia, da prosa; outros do conto, da crônica; outros ainda do romance, etc. Afinal, como bem disse o grande escritor Carlos Drumond de Andrade, “Ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho ímpar.”

Por fim, gostaria de agradecer a todos os colegas confrades que compuseram a banca examinadora, durante o processo que resultou na escolha do meu nome para ocupar, com deveras orgulho e humildade, a Cadeira nº 17 da Academia de Letras de Palhoça, cujo Patrono representa uma das mais nobres personalidades do nosso município, senhor Manoel dos Santos Lostada, meu conterrâneo, que nasceu na localidade do Furadinho, no dia 8 de março de 1860. Era filho de Marcelino José Inácio Lostada e Generosa Maria da Glória Lostada, descendentes de espanhóis. Lostada foi um grande escritor de sua época, embora não tenha editado nenhum livro, mas muitos dos seus escritos foram publicados nos jornais e folhetins da antiga Desterro. Foi Promotor Público de Itajaí e Blumenau, Deputado do Congresso Representativo de Santa Catarina, Diretor do Liceu de Artes e Ofício da Capital, dentre outros cargos públicos de grande notoriedade.

Como reconhecimento pelo conjunto de sua obra, em outubro de 1923, Lostada fora indicado para assumir, como titular, a Cadeira nº 32 da Sociedade Catharinense de Letras, mais tarde, denominada Academia Catarinense de Letras, mas nem chegou a ocupá-la, pois veio a falecer no dia 20 de outubro daquele ano. Ainda assim, foi homenageado pela instituição e tornou-se o Patrono da Cadeira nº 32.

Este foi, senhoras e senhores, Manoel dos Santos Lostada, um notável cidadão furadinense, e, por consequência, um palhocense, que tanto nos enche de orgulho, e que, com muita honra, escolhi para ser o Patrono da Cadeira nº 17 desta Academia, a qual prometo ocupar, com total responsabilidade e abnegação, em favor da literatura palhocense.

Muito Obrigado!

Palhoça, 17 de dezembro de 2009.

ANTÔNIO MANOEL DA SILVA
     Acadêmico empossado


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