Panegírico

Panegírico em louvor a Olívia Emília Guedert Brum. - 28/06/1907 - 16/05/2001.

Por: Maria da Graça Prim.

Apresentado no dia 29 de setembro de 2010, às 19h00min, na Biblioteca Barreiros Filho - Estreito - Florianópolis - SC.

 

O nome Olívia – Tem sua origem no latim, derivado de Oliveira – árvore consagrada aos deuses Apolo, Júpiter e Minerva.

Olívia Emília Guedert, nasceu em Palhoça no dia 28 de junho de 1907, a primogênita dos sete filhos do casal José Frederico Guedert e Emília Ida Schlemper Guedert, sendo: Olívia, Adelina, Maria José (Zezinha), Ida (Idoca), José do Patrocínio (Zico), Otávio (Tavinho) Osvaldo (Vadico).

Desde tenra idade mostrou-se muito responsável pela família e aos 13 anos já costurava, a fim de ajudar no orçamento doméstico.

Logo depois, foi para São Paulo, onde permaneceu por quatro anos na casa de uma tia, irmã de sua mãe, para aperfeiçoar-se como costureira, sendo incentivada a seguir a carreira de “modista”, tamanha era sua perfeição nas peças que confeccionava.

Quando retornou à Palhoça, trouxe a recomendação de sua tia para sua mãe, a fim de que a deixasse seguir a carreira de costureira/modista, uma vez que sua mãe achava que ela pudesse fazer outras coisas no gênero de artesanato.

Em 1943, aos 35 anos, casou-se com José Alfredo de Brum, natural de Laguna, para onde Olívia, agora, Olívia Emília Guedert Brum, foi morar, formando sua família. Desta união, nasceu sua única filha, Maria Gélia que foi só alegria.

Morou em Laguna até 1952, depois foi para Urussanga, permanecendo lá até 1959, quando depois retornou à sua terra natal, da qual se referia como “Meu Chão, minha Vida, meus Amigos, o Ar que respiro”.

Alta Costura - Destacou-se então na alta costura, fazendo vestidos belíssimos para a sociedade de Florianópolis. Muitas das vezes ia à casa das freguesas para costurar, tendo em vista a dificuldade das mesmas irem até à Palhoça para provarem seus vestidos.

Cursou mais tarde a Escola Profissional Feminina Jorge Lacerda, onde se formou em artesanato, confeccionando flores de seda para arranjos de grinaldas e bouquet de noivas, e diversas outras flores para as mais variadas utilidades.

Foi professora na Escola Rural São José, em Palhoça, onde ensinava a confecção de flores e alta costura.

Vestiu a maioria das noivas da década de 60 e 70, principalmente em Palhoça e São José, tendo inclusive feito o vestido de noiva de Elizabete, filha do ex-governador Ivo Silveira.

Tinha as “MÃOS DE FADAS” como costumavam dizer aqueles que viam sua arte.

Sua última obra na alta costura, foi o traje que usou no casamento de sua neta Emiliane, cujo vestido, além de ser por ela confeccionado, também foi bordado por suas mãos, dando um valor de destaque na obra de arte. As mãos, apesar da adiantada idade, continuavam firmes nos seus toques de fada.  

 Confeccionava também fantasias, tendo sido premiada no quesito originalidade, no baile municipal do clube 12 de agosto, em Florianópolis, no Carnaval de 1967, com a Fantasia “O VENDEDOR DE PÁSSAROS”, em que sua filha desfilou arrancando aplausos e recebendo a taça de primeiro lugar das mãos do então Governador do Estado, Sr. Ivo Silveira.

Católica, sempre foi devota a São José, tendo construído, em sua casa, uma gruta com a imagem de seu santo de devoção, na qual fazia questão de sempre ter flores e acender velas em agradecimento, já que seus pedidos sempre eram atendidos pela intercessão de São José.

Na missa que foi celebrada em agradecimento aos seus 90 anos de vida, no ofertório, foram apresentadas várias obras de artes, confeccionadas pela aniversariante.

No teatro, destacou-se tendo interpretado vários personagens em diversas peças teatrais da época, mas, a que mais se destacou ficando em cartaz no Teatro Álvaro de Carvalho por longo tempo, foi ESCRAVA ANDRÉA, chegando a receber várias medalhas pela excelente interpretação.

Na dança, era conhecida como a “Mulher Tango”, porque dançava este ritmo com galhardia, assim como valsas e outros ritmos da época, tendo também participado de vários concursos de dança, sempre tirando em primeiro lugar. Era como ela mesma se intitulava, um verdadeiro “Pé de Valsa”.

Mesmo ao longo de sua vida, nunca deixava de dançar, sendo admirada pela postura de uma verdadeira bailarina.

No seu aniversário de 90 anos, Olívia, dançou valsa com seus irmãos Otávio e depois com Osvaldo, parecendo que os anos não pesavam em suas pernas.

Olívia, juntamente com suas irmãs Adelina e Ida, sempre gostaram de política, e participavam de comícios nas campanhas para Presidente da República e Governadores. Eram da UDN (União Democrática Nacional). Esta veia política foi herdada de sua mãe, Emília, que as acompanhava nos comícios. Sempre manteve laços de amizade com as famílias Bornhausen e Konder Reis.

Na política, Olívia abriu o caminho à participação da mulher. A primeira e única Presidente da Câmara e a primeira mulher a entrar num recinto de votação em Palhoça, para exercer o direito de voto, garantido pelo governo Getúlio Vargas.

Foi para atender ao povo amigo e tão querido de Palhoça, que sempre recorriam a ela, a fim de que lhes auxiliasse, que minha ilustre homenageada, candidatou-se a Vereadora pelo município.

Aos 69 anos, foi eleita vereadora pela ARENA, obtendo expressiva votação. A primeira mulher a participar da vida pública em Palhoça, e, aos 72 anos, assumiu a presidência do poder legislativo municipal. Filiada ao PDS, sendo Secretária desse partido no seu município.

Participação como Vereadora:

  • Conseguiu que fosse firmado um convênio com o Estado para Assistência ao Jardim de Infância Pio XII. Na época, a única instituição para atender as crianças carentes do município, quanto à educação maternal e primária;
  • Dedicava-se às obras sociais, bem como a conseguir empregos para as pessoas que necessitavam de alguém que lhes desse a oportunidade de trabalho;
  • Reformas de escolas;
  • Melhoramentos de ruas;
  • Sempre lutava para que o povo do município tivesse uma assistência médica hospitalar digna.

Algumas considerações de políticos a respeito de Olívia.

JOSÉ SARNEY: Em 1978, o então Presidente Nacional da ARENA, durante encontro do partido em Florianópolis, ocasião em que lhe outorgou o título de “A Mulher Catarinense Olívia Brum”, sendo esse título, motivo de justo orgulho para ela. As considerações feitas sobre Olívia Emília Guedert Brum não traduzem nenhum favor, ela é “Símbolo da Trincheira Política”;

JORGE BORNHAUSEN: O embaixador do Brasil em Portugal a qualifica, na época, de “Uma Guerreira”;

IVO SILVEIRA: O ex-governador falava com admiração e respeito: “Foi minha adversária política. Mulher exemplo como cidadã e política, sempre envolvida com as questões sociais”;

NAZARENO MARTINS: O Vereador assegurava sobre Olívia: “Escreveu uma importante página da História política da região”.

Mesmo longe das discussões políticas, filiada agora ao PFL, a ex-vereadora não perdia a oportunidade para, periodicamente, especular com os companheiros de partido e outras lideranças, como andavam as coisas.

 Quando opinava a respeito do quadro político do momento, não hesitava em dizer que nada havia mudado. As brigas e os desentendimentos provocam a desunião, e, desunidos, os representantes do povo se esquecem de quem os elegeu. Uma pena, porque a fé que as pessoas depositaram nos políticos, cada vez fica mais fraca.

Sempre recomendava atenção dos eleitores na hora de escolher seus representantes.

Olívia, nunca deixou de votar. Pedia a Deus saúde para que quando houvesse eleição, ela pudesse cumprir com sua obrigação.

Admirada pela firmeza ideológica, por seus princípios éticos e pelos compromissos sociais que sempre defendeu a ex-presidente da Câmara não se negava em comentar o que viveu na política. Nos últimos anos de sua vida, esta mesma política que lhe contagiou durante muitos anos de sua existência, já não lhe atraía mais.

Olívia nos seus quase 94 anos de existência ainda guardava a maioria dos detalhes da história de sua vida, embora muitas datas já lhe fugiam da memória. Lembrava a discriminação projetada contra a mulher que buscava, há sete décadas e meia, a quebrar as barreiras impostas por uma sociedade amarrada a conceitos equivocados e preconceitos nada justos.

Tudo isso a preocupava, mas jamais tais barreiras influenciaram ou interromperam seus projetos de vida, pois tinha consciência de que precisava fazer alguma coisa para mudar aquele quadro.

 O peso dos noventa e poucos anos não conseguia atenuar o otimismo, a cordialidade e a simpatia que Olívia sempre mostrou com invejável competência. Não gastava tempo falando em derrotas, frustrações. Ela sempre preferiu contar as vitórias, enaltecendo as conquistas, destacando as qualidades e não os defeitos. Nunca se sentiu realizada, entendendo que se assim se sentisse, já teria se conformado e acomodado.

A avançada idade já limitava quase que integralmente a execução de qualquer projeto, menos o de continuar vivendo e bem, construindo amizades, amando e sendo amada.

Olívia gostava de receber amigos em sua residência no Centro de Palhoça, onde, juntamente com sua filha, Maria Gélia Brum Gonçalves e o genro, Vilmar Ronaldo Gonçalves, moravam.

Teve duas netas : Emiliane e Michella, e dois bisnetos: Natália e Bernardo.

A palhocense gostava de recuar no tempo, 60, 70 anos atrás, e falava como se tudo tivesse acontecido ontem. O bate-papo quando dependia dela, andava sempre na mesma direção: política costura, danças, lutas e conquistas.

Olívia faleceu no dia 16 de maio de 2001, um mês antes de completar 94 anos, deixando um forte legado de luta e perseverança feminina.  


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Referências

  • Informações através de entrevista dada por sua filha (Maria Gélia);
  • Apanhados de entrevistas dadas para Jornal da época;
  • Fotos pertencentes ao acervo da família.

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