Panegírico

 Panegírico em louvor a Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti - 29/08/1831 - 11/04/1900.

Por: João Sérgio Sell.

Apresentado no dia 30 de abril de 2010, às 14h00min, em sua residência - Palhoça - SC.

Nasceu Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti no humilde lugarejo cearense de Riacho do Sangue, humildade que guiaria seus passos através de uma existência devotada ao bem dos homens.

Aos sete anos de idade o menino Adolfo foi para a escola pública na Vila do Frade. E tal era sua vivacidade que aos dez meses de presença havia alcançado o mestre-escola, que não sabia além de leitura, escrita e contas.

Aqueles anos eram tumultuados por uma política violenta e as perseguições faziam parte da vida dos que haviam se sobressaído das massas. Foi o que aconteceu com a família Bezerra de Menezes, e por isso mesmo rumou ela para a então província do Rio Grande do Norte, em busca de maior tranquilidade. Era o ano de 1842. As escolas não abundavam naquelas paragens distantes da Corte. Adolfo encontrou uma delas pendurada na Serra do Martins, em Vila da Maioridade, hoje cidade Martins. Os nomes, como os lugares, eram pitorescos, mas sem maiores distrações, de tal sorte que estudar ainda se constituía no mais agradável passatempo. Em dois anos na Vila da Maioridade o jovem cearense dando conta do programa de latim, passara a substituir o professor da matéria. Seus pendores para o ensino continuavam a revelar-se e se mantiveram durante uma existência proveitosa, toda ela vivida a bem do homem, dos pobres de preferência. E como os ânimos serenassem no Ceará, a família voltou, desta vez instalando-se na capital.

No Liceu de Fortaleza, dirigido por seu irmão mais velho, Adolfo manteve sem interrupção destacado lugar entre os colegas. Ali ficou durante cinco anos até que o Rio de Janeiro o atraiu. A Corte, naqueles tempos, era a meta desejada e muitas vezes atingida por quem pretendia subir. Nesse caso estava o jovem Bezerra. Assim, em 1851, o moço estudante desembarcava na capital do Império, cheio de esperanças, mas sem dinheiro. Todavia, como queria vencer, não recuou diante de um emprego modestíssimo como o de praticante no Hospital da Santa Casa de Misericórdia. E ainda, para pagar os estudos, Bezerra dava lições de Filosofia e Matemática. Estudou com tal afinco e proveito que em 1856 era doutor em medicina. Apresentou tese que versava sobre DIAGNÓSTICO do CÂNCER. Bezerra de Menezes, porém, não nascera para ser rico e o que ganhava dividia com os pobres seus conhecidos, e quando não estavam por perto, ia procurá-los. Em 1857 o médico principiante recebia o diploma de membro titular da Academia Imperial de Medicina do Rio de Janeiro. E no ano seguinte era nomeado para o cargo de Lente substituto de cirurgia. Sua atividade, entretanto, se apresentava sob os mais variados aspectos, pois durante dois anos dedicou grande parte de seu tempo à redação e organização dos Anais Brasilienses de Medicina. Isso até 1861, quando a vida de Bezerra tomou um rumo inesperado.

O POLÍTICO

Foi naquele ano de lutas acirradas, entre liberais e conservadores, que o provinciano da distante Riacho do Sangue recebeu convite para se apresentar como candidato a vereador     pelo Partido Liberal, por insistência dos moradores da freguesia de São Cristóvão. Sabiam que seria ele, na Câmara Municipal, um entusiasta defensor dos humildes, dos pobres, dos quais se constituía a sua impressionante maioria eleitoral. E tão bem andou no exercício     das funções de legislador que se viu reeleito para o quatriênio de 1864 a 1868. Não se apresentou à reeleição no período seguinte, mas já em 1873 foi novamente levado à Câmara dos Vereadores, da qual se viu eleito presidente por expressiva maioria. Não ficaria nesse plano o esforçado legislador, que ali dera a medida de sua polimorfa capacidade e incansável atividade. De sorte que em 1878 vamos encontrá-lo como deputado-geral, posto       que exerceu durante três movimentadas legislaturas. Representava o Rio de Janeiro. Numerosas entidades faziam questão de ter Bezerra entre os seus membros, inclusive a Sociedade de Geografia de Lisboa.

Bezerra honrou de tal forma sua passagem pela Política que, acredito ser suficiente lembrar que Rui Barbosa, dezoito anos mais jovem do que ele, pedia-lhe conselhos sobre quem votar, em tempo de eleição.

O ABOLICIONISTA

Bezerra foi fervoroso abolicionista. Como jornalista muito escreveu em prol da erradicação a escravidão dos irmãos cativos, valendo-se do prestígio que gozava como homem público.

O ABNEGADO

Segundo o humanista Singer, a abnegação é a virtude mais desejada à formação de uma sociedade harmoniosa. Bezerra, no século dezenove a vivenciou de tal forma que ficou conhecido como o MÉDICO dos POBRES. Fez da CARIDADE o altar em que consagrava sua religiosidade. Caridade lúcida, delicada – aquela que não humilha o beneficiado.

Finalizo dizendo: O Filósofo Will Durant afirmou que a História Religiosa da Terra pode ser dividida em duas partes: a descoberta de Deus e a maneira de como caminharmos para Ele. Pensamos que Bezerra sempre esteve consciente sobre isto, pois sua vida foi eloqüente afirmação deste propósito.

Palhoça, 30 de abril de 2010.


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