Discurso proferido pelo Acadêmico José Isaac Pilati, ocupante da Cadeira nº 9 da Academia de Letras de Palhoça, em favor de Zelka de Castro Sepetiba, na Sessão da Saudade ocorrida no dia 27 de setembro de 2024, às 20h00min, na sede da ALP – Palhoça - Santa Catarina.
Senhora Presidente, demais confrades, familiares e amigos da Homenageada muito boa noite,
Jorge Luiz Borges descreve em poema a visita, pela madrugada, à primeira noite do conterrâneo na morte; os presentes a lembrar das coisas miúdas e atávicas do morto, quando em vida, aquilo que foi para ele em pequenos confortos a amizade do mundo. E encerra o poeta argentino com a descrição do seu retorno pelas ruas noturnas e adormecidas, gravitadas em morte, primordiais como lembranças.
Zelka de Castro Sepetiba é a sétima dos dez fundadores desta academia a partir para o oriente eterno; portanto, é como se tivesse morrido no sábado da instituição, guardando na dignidade a própria imagem do descanso eterno, mais de 10 anos depois daquele dia 13 de fevereiro de 2003, que integrava os últimos três meses de vida do Patrono Perpétuo, mentor e fundador, Paschoal Apóstolo Pítsica.
É assim esta condição humana, e nela só nos resta, a nós mortais, contabilizar números e apegar-nos a detalhes da nossa condição e sina, sob a prolixidade do real; prolixidade sem retorno, que não nos nega a ração de cada dia e para alguns este pão seco da imortalidade acadêmica. Exatamente para esta nossa comunhão sob as duas espécies, sendo a outra a saudade, para não dizer as próprias lágrimas.
Quem foi Zelka de Castro Sepetiba, ocupante da Cadeira n° 8 desta Academia? Nascida no Rio de Janeiro em 1943, a 21 de janeiro, filha de José Pereira de Castro e Maria das Neves Moreira de Castro, foi criada em Lages/SC, casada com João Francisco Vaz Sepetiba, mãe de Rodrigo e de Roberta, avó de Bernardo e Arthur. Faleceu em São Paulo, mas jamais morrerá nesta Academia que ajudou a criar e é fundadora da sua cadeira, que tem como Patrono o iminente professor e homem público, fundador da UFSC, fundador da primeira Faculdade de Direito deste Estado e membro da Academia Catarinense de Letras, Henrique da Silva Fontes, a quem conheceu pessoalmente, e tanto honrou, para glória de ambos.
Zelka iniciou seus estudos de primário e secundário na cidade de Lages, e de nível superior, Letras Português e Inglês, e depois Mestrado em Línguística Aplicada (1982-1985). O seu investimento intelectual, portanto, girou em torno da semiótica, na linha da sua Dissertação de Mestrado: Uma introdução à análise semiótica: teoria e prática.
No plano profissional, foi professora concursada do Instituto Estadual de Educação de Santa Catarina, onde lecionou português e inglês, e dali em diversos cursos e instituições, como a Universidade do Estado de Santa Catarina (1975-1985).
O seu papel e participação na fundação da Academia de Letras de Palhoça está associada indissoluvelmente ao cônjuge João Francisco Vaz Sepetiba, de uma forma que pode ser assinalada com traços de poesia. Disse Ludovico Ariosto que: Nenhum homem pode ser perfeito em bondade sem ter ao seu lado uma mulher. A recíproca é verdadeira sem dúvida, e o casal de fundadores desta Academia de Letras de Palhoça, Zelka de Castro Sepetiba, a homenageada desta noite, e seu marido João Francisco Vaz Sepetiba são exemplos vivos da afirmação do poeta italiano.
Depoimento de Carmem Maria Carvalho de Lima, acadêmica fundadora titular da Cadeira nº 10 da Academia de Letras de Palhoça, tendo como Patrono, Horácio de Carvalho (30/3/2010), depoimento dado a Sônia Ripoll Lopes, disse:
Sua fundação acontece em 13 de fevereiro de 2003, após diversas tentativas. Houve a participação direta e o incentivo do Dr Paschoal Apóstolo Pítsica, e a liderança especial de João Francisco Vaz Sepetiba e de José Isaac Pilati. O acontecimento deu-se na Academia Catarinense de Letras, por não estar ainda definido, em Palhoça, um lugar para seu funcionamento.
E concluiu informando:
Como Presidente de Honra, foi escolhido o Dr Paschoal Apóstolo Pítsica e, para presidente da nova Academia, João Francisco Vaz Sepetiba, tendo como Vice-presidente, José Isaac Pilati. Para secretária, foi escolhida a professora Zelka de Castro Sepetiba ( esposa de João Sepetiba). Os dez fundadores foram: João Francisco Vaz Sepetiba, José Isaac Pilati, Carmem Maria Carvalho de Lima, Manoel Scheimann da Silva, Ivo Silveira, César Luís Pasold, Liene Collaço Paulo, Déspina Spyrídes Boabaid e Vanilda Tenfen Medeiros Vieira.
Disse Delfino em sua épica (Poesias completas, t. 2, p. 393):
Tradição grande, palpitante, eterna...
Suspendeu esta mágica lanterna,
Que arranca a noite do seu véu mais denso,
E aclara, e mostra esplendidas ruínas...
E ao encerrar estas breves palavras de honor e saudade, sejam dirigidas à família e a este Sodalício, os versos irretocáveis de García Lorca:
Todos los ojos
Estaban abiertos
Frente a la soledad
Despintada por el llanto.
Los verdes cipreses
Guardaban su alma
Arrugada por el viento,
Y las palabras como gadañas
Segaban almas de flores.
Disse, muito obrigado!